quarta-feira, 7 de abril de 2010

MULHERES, BUNDAS E A BELEZA POLIAMOROSA


Esse texto foi escrito e publicado em momento, lugar, espaço e contexto. Mudei o título, o conteúdo e o trabalhei em uma outra perspectiva. Ao trazê-lo para esse espaço POLI, outro significado, sentido e semântica ele ganha. Vive-se em uma sociedade que dicotomiza o masculino do feminino, latentes em todo ser racional, dando-lhes estereótipos maniqueístas e assim contrapondo corpo e alma e sonhos e racionalidades. Pascal ja afirmara que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Esse texto pretende edificar um túnel subterrâneo do poliamor e o masculinismo  com as pseudos concepções que se tem do amor, da beleza e da sexualidade no tempo 'chamado hoje' .
MASCULINISMO=POLIAMOR? O ser humano é uno e é também uma rede de diversidade: é masculino e feminino, é o pai e a mãe, a cultura e a sociedade, os sonhos e os desejos, o amor e o sexo. Oposto ao masculinismo é o machismo. Masculinismo faz a sinestesia entre o feminino e o masculino inerentes à biologia animal humana. Contrário ao poliamor é a monogamia dogmática e fechada que concebe o amor como sendo exclusivo e nao inclusivo, uma herança da cultura patriarcal e cristã ocidental. As tentativas de padronização da conduta e moralização só nos faz uma pessoa unidimensional e um prepotente medíocre. Enquanto homem e mulher somos  ao mesmo tempo um ser cósmico, terráqueo, cultural, social e individual. É por isso que para o poliamor e o masculinista, o amor e a sexualidade pendulam em ser vividos de modo cósmico, ecológico, conforme  essa natureza cultural e o lado da alteridade, diversa e plural. A Monogamia e ou sexismo pensa que o ideal na vida  é uma relação unidimensional. A vida tem múltiplas dimensões, possibilidades e perspectivas. O amor é natural de corpo e de alma, que é traduzida assim por DRUMMOND:
Amor – pois que é palavra essencial comece
esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma a expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

A DITADURA DA BUNDA - Fiquei matutando em escrever acerca  da coisificação do 'ser-corpo' da mulher. O que se faz com o corpo do homem, fica para outra ocasião, ou para que alguma pessoa se aventure nessa empreitada... Sabe-se que não é muito difícil discorrer sobre o comum dos homens patriarcais, no mundo virtual e presencial. É perceptível, para o olho nú de qualquer teoria, que  a visão do homem primitivo ao globalizado, sobre o 'ser mulher' sempre  foi, é e será  um poço de enigmas. Essa aporia se deve ao modo como a educação da mulher faz com que ela combine a sensibilidade e o feminino em seu ser. Isso fez com que se criasse lendas e histórias tipo, a da inveja do pénis a vagina que devora;  isso  tudo seduz e atrai, incomoda e encanta e amedronta e acolhe. Pergunto continuamente às pessoas, e ainda não encontrei respostas sensatas, por que a idéia beleza feminina tomou o rumo da bunda+cracia e peito+cracia?
BUNDAS - Naveguei e pesquisar na internet sobre essa supervalorização e segmentação de setores do o corpo da mulher. Hoje em dia, beleza feminina é sinônimo de CPB: Cara, Peito e Bunda. Drummond escreveu uma poesia-encômio com o título A bunda, que engraçada . Sua poesia, diferentemente  que a bundalização do sendo comum, tem outra perspectiva. A maioria dos homens quando avista uma mulher da bunda saltitante fica de olhos arregalados, excitados. As mulheres quando vêem a outra, com essa mesma configuração, olham da mesma forma. O que será que há em comum entre esses dois olhares lançados? O que um e outro imagina, fantasia e deseja em relação a esse objeto sinuoso? A maioria não tem a visão estética de um DRUMMOND:
A bunda são duas luas gêmeas
Em rotundo meneio. Anda por si
                                                            Na cadência mimosa, no milagre
                                                             De ser duas em uma, plenamente. 
O CORPO - O corpo da mulher, na história do Brasil, deixou der ser uno e uma rede de encontro, de comunicação, de expressão do todo humano subjetivo e social. O que se percebe em nossa história é a desconfiguração e fragmentação do corpo da mulher. No período da colônia o corpo da senhora da casa grande era para engravidar e parir os herdeiros do Senhor. O corpo da negra e da indígena era para ‘furunfar e fazer sacanagem’. Hoje o corpo da mulher foi reduzido a uma escultura chamado de violão ou de avião.
SUSPEITAS - Levanto a suspeita de que, se é feito isso com o corpo da mulher e ao mesmo tempo o transforma em objeto de culto, perdendo assim a seu lado comunicativo e de moradia. Sendo assim, se pergunta se a mesma coisa nao foi feito com a concepção e o modo como se vive, e ou como descaracteriza e desfigura, o amor e da sexualidade? O corpo é a morada das pessoas e é com ele que nos comunicamos e nos relacionamos. O corpo é a morada da alma e alma é o ETHOS, oca, morada, do corpo. O amor é vivido no corpo e com o corpo através dos desejos e sonhos. Quando se compartimentaliza o corpo também se fragmenta a alma do corpo e o amor do desejo. O amor e o corpo, o desejo e a alma são partes de um todo cósmico.
HOMEM E MULHER - Alguém arriscaria emitir uma opinião...Onde está a raiz dessa nova estética? Será que não está havendo uma deformação no modo de contemplação e de admirar o belo? E por que será que não se tem o mesmo olhar e exigência para com os homens e se aplica os mesmos parâmetros quanto a seu ser belo? A mulher tem que ser sarada, malhada e inteligente. O homem pode ser barrigudo, careca, medíocre, sem conteúdo, sem bunda, fedorento. Da mulher se exige que seja cheirosa, sem barriga, bunduda e peituda. Essa visão é traduzida na música de Gabriel, o pensador, Nadegas a declarar. (Veja o clipe dessa musica, de gabriel pensador) 
O TEMPO - A mulher, com o avançar da idade, a natureza proporciona outra viscosidade e nobreza em seu corpo; ela precisa fazer coisas para se manter dentro desse padrão de beleza: lipoaspiração, por silicone, malhar o corpo, fazem regime. É preciso usar adereços que  preencham os lugares menos salientes e rijos e fazer com que correspondam ao que é tido e estabelecido como padrão de beleza. É normal essa exigência de beleza. Será que isso é mesmo beleza, gostosura? Tem que ser assim para ser bela e gostosa? Será que fazem lipoaspiração, colocam silicone e malham a alma?

BELEZA - Essa concepção de beleza, herdada da  cultura patriarcal e do nazismo de ontem e de hoje,  é delimitada a um período da vida: tudo é passageiro e provisório  e o corpo tem que se manter jovem. Novos corpos estão chegando. Até que o corpo mantenha rijo e jovial ele é considerado belo e desejado. Após essa fase ele precisa ser escondido nos lares. Isso parece arianismo nazista. Será que o modo como o homem, de hoje, vê o corpo melhor é diferente de uma percepção nazista e ou do período da escravidão?
ESTÉTICA - Por que a beleza e gostosura da mulher estão associadas à bunda e aos seios, em um corpo-altar-objeto adorado por todos, em um corpo magro? Esse remoer é estético. O sentido da ESTÉTICA, fem.substv. de estético; ver estet(o)-; f.hist. 1833 esthetica, é a ciência do ver: sensível, artístico, imaginativo e em simetria simbiótica.

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA - Toda essa mentalidade, enraizada no imaginário, é como o vírus na placa mãe de um computador, e modelia a fantasia estética e criativa das pessoas. Elas são despossuidas, em sua natureza cultural e em sua sensibilidade, do feminino que é peculiar ao ser considerado humano. Isso desumaniza tanto ao homem quanto á mulher. Na visão do senso comum cultural e até mesmo esses atributos não pertencem à singularidade humana. A Sensibilidade passou a ser considerado um valor feminino e o homem é visto como tendo como maior característa o aspecto racional. Faz-se uma confusão em relação ao que é racional o contrapondo ao sensível. Toda racionalidade é sensível e toda sensibilidade tem suas RAZÕES, como foi referido acima, na visão de Pascal. Isso é violência estética que deforma toda a forma do ser, como um todo em partes e em simbiose.

EDUCAÇÃO - Trabalho em Escola pública. As mulheres jovens e adolescentes, estudantes nesses espaços, de bundas mais arrebitadas e ou avantajadas, andam pelos corredores se imaginando em uma passarela de olhares eu seu derrière. Na sala de aula os meninos e jovens mancebos ficam todos à sua volta. As outras que não têm esses pré-requisitos, exigidos pela mídia e imaginários, ficam tímidas, escanteadas e encantoadas. Quem assim é, chama  atrae a pra si atenção dos garotos. Não é difícil imaginar o que se passa na cabeça dos jovens, tanto masculinos como femininos. Uma aluna me disse que os meninos olham com desejos... E as jovens querem ter um bumbum igual ao daquela que é considerada gostosona. Será que beleza é isso? Que tipo de modelo estético está sendo formatado nesse novo horizonte?
FAMÍLIA - Que tem filha com essa geografia, desde a mais tenra idade, investe em uma veste que embalam  e que acentuem essa sinuosidade corporal mais ainda. A mulher aprende andar sinuosamente e círculos como patas, como o rastejar da serpente. De modo dogmático as mídias determina culturalmente que uma mulher bela é assim. Logo as garotas querem ser modelos e se esnobam diante das outra sem esses atributos. Por que não se as estimulam a serem modelos de inteligência, de saberes e de ciências? Acham-se mais bonitas que as outras... Onde está a beleza do corpo e da alma no ser humano?
ALMA - Quando falo de ALMA estou falando do sentido etimológico e filosófico {derivado do lat. ANIMA,ae 'sopro, ar; alento, o princípio da vida; a alma, por oposição ao corpo',segundo Nasc., através da f. *alima, vulgarismo esp. ant.; ver anim(i/o)-; f.hist. sXIV aalma, sXV allma.} e que tem como sentido, a essência e o impulso vital do ser humano. A alma habita no corpo. O corpo tem como alicerce a alma. O corpo quando destrói os seus alicerces desanda, desmorona.
BELEZA GREGA  - Para os Gregos a beleza estava associada a equilíbrio, a ordem, à simetria pela visão em seu conjunto do corpo e a alma, da razão e da paixão, (Aristóteles) da razão, da vontade e do desejo. (Platão). Os Heróis gregos, em ILÍADA E ODISSÉIA, de HOMERO são belos, sábios e justos. Eles realizam feitos para alcançar o belo, o bom e o justo. Essa é a trindade das virtudes e da ética grega mitológica. DRUMMOND expressa esse idela nessa parte de sua poesia:
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, Platão viu contemplado:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

NIETZSCHE – Ele escreveu em ASSIM FALOU ZARATRUSTA (...) "O homem é corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, perigosos olhar para trás, perigoso tremer e parar... Quem está desperto e consciente diz: sou todo corpo e nada fora dele... Mas vós, meus irmãos, dizei-me: o que revela o vosso corpo de vossa alma? Não será ela miséria, lama e uma lamentável complacência? (...) Na verdade o homem é uma torrente lamacenta (...)... Na idade média se cultuava a alma em prejuízo do corpo. Na era do virtual se cultua o corpo em detrimento da alma. A alma medieval era escravizada pelo corpo. O corpo no século XXI é consumidor da alma. Assim o homem a norma é “Eu Consumo, logo existo... Sou belo(a) e gostoso (a).
BERMAN  - Tem algo em comum entre a idade média e o mundo pós tudo, no modo como olham para a mulher? O homem e a mulher, nos períodos referidos, são fragmentados do seu ser e dos seus desejos . Desejos do corpo e da alma. Só um é favorecido. Fragmentado masculino e feminino. Um é do homem e o outro é da mulher. Quando se fragmenta se perde a versatilidade, fica sólido. BERMAN escreveu um livro com o título TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR. Será assim a sociedade do nosso século? Sem solidez anímica, de alma, e sem consistência mental. Vazios de alma e com os corpos plenos do nada?
CONEXÃO - Fala-se em uma sociedade da conexão, de rede e das comunicações. Surge a aporia: é possível com o corpo e a alma desconectados, rasgados e na surdez-mudez da circulação sanguínea? O corpo não é lugar de encontros e de dos desejos do todo humano. O corpo não seria a possibilidade de conexão infinita como  poetiza DRUMMOND:
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas.
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre
MAQUIAVEL - Maquiavel predisse intuiu há alguns séculos atrás, que reino dividido é fácil de ser governado, dominado. O corpo faz parte de um reino e não pode dominar esse reino e ficar sem as suas raízes. Só domina e é dominado quem é escravo, desconectado e rasgado do seu tecido anímico. Pode se inferir que o corpo separado do seu todo tem a intenção de ser domesticado e dominado e assim se perde a capacidade sensivel e racional ao mesmo tempo. 

EDUCAR em nosso século é sensibilizar o corpo e a mente para que se torne um espelho do universo cósmico em seu corpo  micro-cosmo interno. Precisa-se de uma reeducação estética, sensível, feminina. O desejo e a imaginação são comercializados pelas mídias e devorados dogmaticamente pelo senso comum, moralista e patriarcal, e pela nova cultura dos desconexos (ados) e desconectados. Inspirei-me em Drummond com a essa estrofe desse texto do livro amor natural; é uma imagem divina e deixo em aberto o insight desse texto para que pensemos mais imaginativamente:
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas.
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre

“Os vasos(corpos) vazios são os que mais fazem barulhos.” (Shakespeare)

5 comentários:

  1. Seu blo está ótimo. Vc como sempre filsofando e contribuindo para o nosso aprendizado. Há professores que marcam vida de seus estudantes e vc me ensinou muito. Obrigada.

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  2. Adoeri saber que ai em Tocantins existe uma comunidade POLIAMOROSA.
    parabéns

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  3. Essa ditatura da Estética é complicada. Mas veja a sua volta que há movimento de resistência. Sempre há. O problema é que a própria resistencia pode virar moda, como foi o caso dos Hippies.

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  4. o Poliamor seria então buscado pelo super-homem de NIETZSCHE? e não racionalizado pelos homens em sua mediocre espansão do saber amor? A alma perdeu-se enquanto que corpo supravalorizado criou novas formas de Ethos, não mas para que se faça morada da alma mas sim de um comtemplar libidinoso e dolor? Percebo que o involucro carnal encontrou teu auge e com isso a alma perdeu tua evolução, atrofiando numa jaula soldada.

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