quinta-feira, 24 de junho de 2010

SEXUALIDADE, ESSA NOSSA DESCONHECIDA

Das obras de: FOUCAULT, A história da sexualidade, de FREUD, "Três ensaios de sexualidade"  das obras completas e de DEL PRIORE, História do Amor no Brasil são os autores que embasam esse texto. É um texto propedêutico sobre a sexualidade. Constatei ao  procurar na internet, algo pertinente e  disponível sobre a sexualidade, nada de profundo,  consistente e suculento pra quem quer saber das coisas de modo simples, se encontra. Esse texto é o início de uma série, que será alocado nesse espaço, com o propósito de  levantar um diálogo e dar sentido ao título desse blog, que é a sexualidade e o poliamor no Brasil e no Estado do Tocantins.  O primeiro pressuposto do texto é o de que a sexualidade é comunicação, descoberta do eu e a estética da existência do ser no mundo. O outro ponto é que o blog tem como princípio que, todo AMOR é POLI: SEXUALIDADE, CÓSMICO,  ECO.

ANIMAL SEXUADO - Somos animais sexuados. Isso significa que ninguém é despossuído de: desejos, sonhos,  sentimentos, paixões, afetos, medos e desafetos. Isso implica em saber que somos nós quem escolhemos nossas relações de desejo e de posse e o modo como viver essas relações.  A sexualidade é característica latente que diz às pessoas que elas não nasceram prontas e estão em processo de humanização e que saibam e  se sintam humanizadores dos outros. O animal irracional não tem sexualidade. Ele está circunscrito e limitado ao determinismo de sua espécie. O animal é todo instinto e tudo nele tem a ver com a reprodução e continuidade da espécie. O animal tem sexo mais não faz sexo, ele cruza. Ele não programa e imagina a sua reprodução e a vida de seus desejos, não tem consciência e nem se pode dizer que tem sexo. Sexo humano é projeto, escolha e liberdade.

DISCURSOS - Todos falam sobre sexualidade em discursos, falas, imagens, aulas e aulas. Discursos as vezes, fluidos, vagos e sem sentido. Aulas sem dizer O QUÊ do desejo  humano e das coisas e a relação com o sentido da vida afetiva e afetuosa. Pouca gente consegue expressar, edificar ou fazer uma reflexão, a partir de sua formação e ou ação docente, científica, professoral, familial, relacional e sobre o universo, que envolva e mostre que: tudo tem a ver com  a sexualidade. As pessoas desconhecem que caminhos podem levar à escola do aprendiz em labutar e compreender o enigma da sexualidade. As universidades, inclusive as de Psicologia, não dizem muito acerca das dimensões e da diversidade, desse eterno e desconhecido mundo da afetividade e genitalidade. Para estes a sexualidade é uma coisa natural, biológica e ligada apenas à cultura e a sexo.

ESCOLAS&IGREJAS - Alguns transferem aos psicólogos o discurso coerente sobre o tema. As igrejas, em geral as cristãs sobretudo, confundem sexualidade com sexo, com pecado, coisa suja  com a tentação dos demônios. Passam a entendê-la  apenas como uma conduta prenhe e que só provoca efeitos colaterais, do tipo: gravidez na adolescência, promiscuidade, traiçao, drogas, transgressões... Pouco se compreende que todas essas mazelas humanas, da pedofilia à violência doméstica, dos ciúmes patológicos ao modo de considerar a outra pessoa como coisa, da visão falsa de amor e ao ignorar o valor  e a dimensão das amizades, das relações de família sem vida social e não mais como ‘CÉLULA MATER’,  dos machismos e coisificação do corpo da mulher e mais e mais,  fazem da vida ter ou não ter sentido e a sexualidade banalizada. A sexualidade é uma coisa nobre para que seja entregue a psicólogos, médicos, professores, pastores...

SEXUALIDADE&ÉDEN - Freud descobriu  que a  vida da sexualidade tem uma história.  Essa história começa desde o início de gestação do embrião, no ventre da mãe e se prolonga até o infinito de  toda formação e evolução biológica dos humanos. A partir de então, esse bebê começa a receber influxos do externo e do corpo da mãe. Se a gravidez da mãe for tranqüila a criança vai ter, no futuro, uma vida sexuada tranquila. Ela está latente e patente na vida, do ventre ao túmulo.  Ela faz parte da vida e tem uma vida sempre pulsante internamente. É como se fosse uma vida dentro da vida humana. Diz-se que a sexualidade ocupa 95% da vida e da racionalidade. Ela é um lado irracional da racionalidade, ja disse Platão, ao afirmar que o homem tem uma alma concupiscível, há milhares de anos.Essa visão tripartite da razão corresponde aos três aspectos da racionalidade humana, que posteriormente Freud caracterizaria como ego, id e superego. Ela tem morada em potencial, na LIBIDO, que é uma descoberta da psicanálise de Freud. Ela emerge no ventre, tem fases progressivas e saudável ou patológica. Ela está na racionalidade, no inconsciente, nas relações profissionais, nos sonhos e pesadelos. Nesse sentido a vida da sexualidade começa no interior do ventre da mãe. Assim é possível intuir que a sexualidade é vida, intimidade e fusão de corpos, no início da mãe e pai e posteriormente com outros corpos. A serenidade, a doçura, o cuidado, a sensibilidade se configuram em um espaço onde a pessoa se faz discípulo nessa escola embrionária da sexualidade. Ela tem um crescimento, desenvolvimento e amadurecimento permanente, constante e eterno.

LIBIDO&ÁGUA - A partir de Freud, pode-se pensar na sexualidade como sendo o oceano inexplorado do humano que não  se desenvolve, para quem não aprende a navegar  conhecer as ondas e oscilações dessas águas. Ela é a água que circula em todo o nosso corpo de afetos e de erotismos. Ela irriga todas as dimensões da vida humana.  Ela é o oceano da LIBIDO.  Somos 2/3 de nosso ser, água-libido. Ela está dentro da racionalidade, ela circula nas coronárias cardíacas, ela está no sistema respiratório, no sistema sudoríparo, na pele e seus mil e um sensores de conexão com o corpo, com os corpos e com o cosmos. A sexualidade é afeto, desejo, sonho, ideal, paixão e o fato de tratar de modo inepto a vida da sexualidade tem efeitos desastrosos na vida vivida sem afeto e sem sexualidade sadia. Ela está no sangue que circula, na respiração que deseja ou que perdeu todo desejo na vida. Ela percorre e banha todo o nosso ser que se humaniza ou se animaliza. Esse lençol subterrâneo vem a tona através dos sonhos, que segundo ele, é o teatro do desejo.  

LIBIDO in FASES - Para FREUD a sexualidade passa por fases de florescimento. É aquilo que ele vai chamar de fase oral, fase anal, fase fálica e latência. CHAUÍ  faz uma caracterização de como “Freud descobriu três fases da sexualidade humana que se diferenciam pelos órgãos que sentem prazer e pelos objetos ou seres que dão prazer. Essas fases se desenvolvem entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos, ligadas ao desenvolvimento do ID: A FASE ORAL, quando o desejo e o prazer localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos, todos são objetos do prazer; A FASE ANAL, quando o desejo e o prazer localizam-se primordialmente nas excreções e as fezes, brincar com massas e com tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;  e a FASE GENITAL ou fase fálica, quando o desejo e o prazer localizam-se primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mãe é o objeto do desejo e do prazer; para as meninas, o pai.” O ID para Freud é o campo das possibilidades e da energia que move o humano para fora das neuroses, que é a sexualidade doente e  rumo a uma sexualidade saudável da pessoa que superou o complexo de Édipo, que é a relação fechada, egocêntrica e possessiva.

HERMENÊUTICA- Fazer uma hermenêutica ponte entre essa descoberta teórica de Freud e o que a filosofia permite inferir, é uma tarefa necessária.  Pode-se dizer  que sexualidade é comunicação com o mundo, com as outras pessoas e consigo mesmo. A sexualidade se vincula a essas três dimensões. A primeira forma de contato com o mundo se dá através da boca. A boca simboliza muito. A boca fala verdades e mentiras, beija, prova, sorri, chora, rejubila, grita de orgasmos, briga, canta, dar aulas... A boca nos aproxima e distancia dos outros e de nós mesmos. A bunda ou analidade é um lugar de saídas e entradas, para alguns e para outros não. É através dela que expelimos, nos higienizamos e percebemos que temos uma morada interior que se projeta. Através dela nos comunicamos com o nosso mundo interno e infinitesimal. Causa prazer admirar bundas, esvaziar intestinos e ter relações. Se na boca alimenta, no anal se delira de dor ou de prazeres ao esvaziar o intestino ou no ato de sonhar, explorar e desejar a DERRÍERE. A fase fálica é o momento do contato com a outra pessoa. Descobrimos que podemos nos comunicar com o outro e conosco mesmo. De retermos e de nos lançarmos. Fase anal é retenção e controle, avareza e egocentrismo do eu contra si mesmo que tiraniza a si, aos outros e ao mundo.

SEXUALIDADE&HOMEM - A cultura formata no homem um modelo de masculinidade diminuído e se torna um modo de viver a sexualidade, o amor e os sentimentos mais voltados para o visual e físico-esterno e menos para o olfativo e intelectivo. Diz-se assim que o homem é mais racional e objetivo. Essa é uma concepção limitada e superficial,  emanada da sociedade patriarcal e monoteísta. O homem é centro da genealogia e Deus é visto como pai. Isso faz com que ele seja o suserano dos desejos e das emoções. Ser suserano implica em controlar os atos emotivos e não tê-los. É atribuído a ela, como sendo características somente femininas. Essa é uma perspectiva que limita a sexualidade. Ser diferente passa a ser visto como o primeiro sexo.

SEXUALIDADE&MULHER - Ao mesmo tempo em nossa sociedade, que tem como matriz cultural a tradição Indígena e Afro-descendente, a configuração da mulher se faz a partir da compreensão de que os seus atributos passam, apenas pela intuição, sensibilidade e feminilidade. A cultura patriarcal incute na mulher, embora vivendo já  em um mundo de tecnologias e mídias, um estereótipo centrado no lado auditivo, cosmético e corporal. A mulher é ensinada a cultivar apenas ao corpo e bunda. Isso faz dela um ser que não tem uma morada na razão mais nas curvas do corpo e dos órgãos genitais. E nessas duas culturas não tem muita a marca do mundo patriarcal. A ela é transferida e responsabilizada pelo sucesso e insucesso da educação dos filhos e da relação matrimonial. Mesmo assim prevalece o domínio da usurpação da mulher em sua sensibilidade e ser de sonhos, sentimentos, desejos e ideais. A sexualidade é truncada e fragmentada em sua totalidade corpo, troncos e membros do corpo, dos corpos-mundo..

SEXUALIDADE%ENIGMA – A sexualidade é afetividade e a genitalidade em sinergia. Ela se desenha, no ser das pessoas, no silencio de nosso mundo interno e desconhecido, dos anos e das relações e amassos afetuosos, às vezes incestuosos, que recebemos, nos caminhos, curvas e encruzilhadas da vida, dos lares ás ruas, dos braços dos namorados e no cuidado ou maltratos das famílias. Dos braços pedófilos às oratórias moralistas e repressores dos pastores ele pode ser objeto de condenação. Tudo isso vai desenhar o minha energia ou frigidez sexual inicialmente e ou precocemente. Descobrir o que leva a uma pessoa gostar de homem, de mulher, de homem e de mulher é o enigma que nem ciência ou religião explicam suficientemente. Poucos se perguntam o por que de eu sentir atração por essa e não por aquela  outra pessoa. A maioria considera isso natural e certo: o homem gostar da mulher e a mulher gostar de homem. O meu gosto, o meu desejo, o meu interesse por isso ou por aquilo, a minha atração ou antipatia por essa ou por aquela pessoa ou coisa, está sediado no habitat e no iceberg da sexualidade. Dela faz  parte o campo de uma estética da existência e da  busca da essência humana, que é  o humanizar-se sempiterno.

2 comentários: