Relacionar o poliamor com o carnaval é o que pretende esse texto. Ao se refletir o que significa um e o sentido do outro se descobre o que de comum entre eles. Aos dois são feitas confusões e atribuições indevidas que não correspondem nem a um e nem ao outro. Em tempos de carnaval as pessoas vivem coisas que no decorrer do ano não se sentem encorajados. Diz-se que carnaval é tempo de ‘soltar a franga’, é o tempo do ‘vale-tudo’. Essas mesmas realizações prazerosas e momentâneas podem ser ditas do Poliamor (POLI).
Para o POLI viver a sexualidade significa vitalizar, de dar viva e animizar, de dar alma, à nossa natureza biológica, cromossômica composta de 23 pares, masculinos e femininos [Homem: 46, XY ou 22AA + XY\\Mulher: 46, XX ou 22AA + XX]. Sendo assim a nossa natureza é ao mesmo tempo BISEXUAL. .Temos em nossa natureza os dois gêneros: masculino e feminino.Por outro lado, prendemos a vida toda, que o natural é viver de modo Monogâmico e Heterosexual. Isso é uma absurda loucura.
Soltar a franga, expressão corrente em tempos de carnaval, expressa o viver da sexualidade de modo humano e sem limitações patriarcais, seja ela de orientação bisexual, homosexual, Heterosexual e ou pansexual. É esse o lado positivo e o tempo propício para o poliamor;viver uma sexualidade todos os dias do ano como se a vida fosse um carnaval continuo. Isso não significaria uma eterna orgia e promiscuidade. Será que as pessoas suportam viver a vida assim, a vida como se fosse um carnaval? Esse é o objetivo a ser colocada em debate por esse texto.
CONFUSÕES
É comum escutar o discurso de que em tempo de carnaval só se tem drogas, sexo, gravidez e aumenta a violência. Em dias que precedem ao carnaval as escolas organizam palestras enfatizando apenas o cuidado quanto ao uso camisinha, fugir das drogas e frear a violência. Não se pretende com isso insinuar que isso deva ser descuidado. O que é importante destacar que esse trabalho deve ser feito sempre, drogas, violência, sexo sem camisinha e gravidez indevida e precoce acontece no decorrer do ano. Aumenta no carnaval em razão das possibilidades e as oportunidades aumentarem serem maiores.
Quando se fala de poliamor às pessoas, elas tem a percepção de que isso é desculpa e pretexto velado para a praticar do sexo de modo inadvertido e irresponsável e que isso é inconcebível. As pessoas precisam de limites, interditos e de proibições e se tudo for permitido vão desaparecer a fidelidade, o amor e o respeito.
É comum confundir poliamor com POLIGAMIA. Só que as pessoas não têm a devida informação de que a poligamia é um modelo de casamento dentro dos moldes patriarcais onde a mulher continua sendo propriedade e objeto de prazer dos homens. E que a POLIGAMIA, assim como a MONOGAMIA não se baseia no cuidado, na ‘amizade ilimitada’ mas na eterna relação dependente que se baseia na imaturidade, irresponsabilidade e insensibilidade das pessoas. Existem aqueles que entendem que o POLIAMOR é sinônimo de POLISEXO. E outros dizem ainda que na modalidade de POLI o casamento desapareceria.
O que se pode inferir é que, tanto quanto os objetivos e as propósitos do carnaval e do poliamor, as pessoas acham interessantes mais não tem coragem de admitir as possibilidades abertas por ambos. Uns preferem viver alguns dias durante o ano, o carnaval. Para outros pode até haver relações extraconjugais desde que o outro não descubra e se por acaso isso se torna um campo aberto de possibilidades para todos a coisa não daria certo. Admite-se um dia do VALE TUDO e das relações EXTRA como forma de manter a fachada de que a melhor saída ainda é a vida ‘como ela é. ’
MÁSCARA, ESPELHO, FANTASIA E GÊNEROS(IDADE)
MÁSCARA - Os antropólogos da cultura brasileira, ao fazerem hermenêuticas do carnaval dizem que ele é a MÁSCARA que colocamos nesse momento do ano para sermos nós mesmo. Ela é performática daquilo que durante o ano vivemos e deixamos de ser. A máscara, colocada agora, demonstra o ‘nosso não ser’ no cotidiano da vida, pois a sociedade, com suas convenções pré-estabelece o que é certo e errado. No carnaval colocamos a máscara e assim nos vestimos de quem realmente somos e nos despimos daquilo que nega o nosso ser. O poliamor é também o desvelar e o desmascarar do que a monogamia colocou como sendo o único caminho para viver o amor e a sexualidade e da real relação sonhada.
ESPELHO - O jogo do espelho é metáfora do reflexo de nosso EU de possibilidades. Quando se nos olhamos no espelho do carnaval visualizamos ‘retratado’, a imagem que fica ofuscada pelos olhos do preconceito, do dogmatismo, da promiscuidade derivada do modelo de relacionamento infantilizador, no interior das relações, namoros e ‘ficações.‘ Os jovens falam em ficar mais do que em namorar. O namoro e o ficar se apóia na relação sexual. Amizade é uma coisa ignorada e desacreditada em todos. A música “vida louca,” cantada por Rio Negro e Solimões traduz esse desejo, prática, conduta e sonho:
[...] Eu não quero nem saber dessa vida louca,
Eu quero é fica, quero é beijar na boca
[...] Eu não quero nem saber dessa vida louca,
Eu quero é fica, quero é beijar na boca
Eu não quero nem saber dessa vida louca,
Eu quero é ficar, quero é beijar na boca
Eu quero é ficar, quero é beijar na boca
Namoro serio não to nem ai com isso,
Eu não quero saber de assumir compromisso
Eu quero é levar minha vida na folia,
Abraçando e beijando toda noite todo dia. [...]
É recorrente na onda da musicas do ‘sertanejo romântico’ e de consumo, do tipo rebolation, textos de musicas que traduzem esse desejo e espelho de uma geração. Isso não é apenas sonho adolescente mais sonho crescente em todas as pessoas. Isso espelha algo que está sendo gestado e exorcizada nas relações entre as pessoas: a vida louca burguesa, monogâmica. Poliamor é espelho do novo, do virtual, do real, do atual e do que se acena como luz no fim do túnel da mediocridade mendicante das relações burguesas.
FANTASIAS – A raiz da palavra fantasia é curiosa, [lat. phantasìa,ae 'visão, imaginação, aparência, sombra, fantasma, sonho, idéia, concepção', do gr. phantasía 'id.'; ver fantas-] e nos leva a tirar conclusões interessantes. Fantasia é ao mesmo tempo visão prospectiva, imaginação, das invenções, criações e inovações. É sonho humano, é fantasma da razão e da emoção irmanados, que aspiram e nos impulsiona em tempo real para novas dimensões de vida. É uma concepção que se gesta e se engravida na vida de quem está sendo abortada em seus desejos e ideais. O poliamor é tudo isso simbioticamente em rede vivo de vida. Ele permite a realização e ativação de todas essas pretensões das fantasias humanas. Sem fantasia não se vive e é ela que nos dá vida. Artistas, pensadores, escultores, escritores, compositores professores, educadores e amores só terão vida rumo à eternidade do ser se, nutrirem em si o sentido metafórico do carnaval e do poliamor ‘nas vidas vividas dando vida a outras vidas.’
GÊNERO(SIDADE) – Permitir também que viver o masculino e o feminino sejam vividos na mesma proporção é o que se sonha em carnaval. No carnaval ‘homem se veste de mulher’... Mulher se mostra, através do corpo a alma, na vida e os sonhos. O sonho de ser rainha por um dia, contrapondo-se a todos os dias ignoradas e descuidada nos lares, e ao mesmo tempo ser venerada, olhada, admirada e desejada nas passarelas dos carnavais. No dia a dia da vida a mulher usufrui do resultado da revolução sexual que a colocou no palco da sociedade antes ocupada apenas pelos homens. Só que isso lhe acarretou uma tripla jornada de trabalho, trabalho, lar e cama, sem que ela possa retrucar. Ela cuida de todos e é abandonada por todos. Os filhos homens a consideram de inferior grandeza. Elas são mais vistas em sua genitália, pelos seus seios e glúteos. Seu ser de desejos e vontade fica eclipsada. O carnaval é a autora e o raiar de seu ser divino e misterioso feminino latente. O poliamor acredita que viver o feminino e o masculino integrados sem essas dicotomias e deformações entre corpo e alma supera tudo isso. A identidade de masculino e de feminino precisa ser redimensionada. E essa redefinição passa pelo resgate da feminilidade, da sensibilidade, da doçura e da humanidade. O futuro da humanidade e da humanização das pessoas passa pelas mulheres. E oxalá a vida seja um carnaval e um poliamor em todos os espaços. A irmandade do masculino e do feminino, do BI, do HETERO, do HOMO, do POLI e por que não da monogamia renovada e sem dogmas.
Raimundo Expedito Pires, Paraíso do Tocantins, fevereiro de 2010
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